Por Airton Soares
"Chorava à noite, em segredo, no dormitório; mas colhia as lágrimas numa taça, como fazem os mártires das estampas bentas, e oferecia ao Céu, em remissão dos meus pobres pecados, com as notas más boiando." (Raul Pompéia, O Ateneu, pp. 73-74.)
PRIMÁRIO. AULA DE GEOGRAFIA. AS CAATINGAS DO NORDESTE. Lá pro meio da aula, dou-me conta de que bocejava contorcendo-me de enfado sobre a velha carteira da escola. De súbito, ao escutar a palavra caatinga, levo as mãos à boca fazendo trejeitos de fedor. O coleguinha do lado ri e segue-me nos gestos.
NOSSO PRÊMIO: meia hora de pé com os braços abertos de frente pra classe. Cinquenta anos.... Cinquenta! E esta cena ainda vive cá dentro do meu juízo. Vive sem mágoas, mas lamentando o modelo de educação da época.
O PROFESSOR MARQUES bem que poderia sutilmente ter chegado de mansinho... pé ante pé - dissimulando sua irritação - e...: "muito bem crianças! O gesto que vocês acabam de fazer trata-se de outra maneira de entender a palavra caatinga. A isto chamamos de palavras homônimas homófonas. E terei... terei..." Não com estas palavras, naturalmente, como diria Fonsequinha, personagem do 'Zorra Total´, mas respeitando nossa idade e falando a nossa língua, claro!
O ACONTECIDO não minguou, mas retardou - e muito - meu pendor artístico e outras inteligências inerentes ao ser humano.
MAS QUER SABER: o que marcou. Marcou mesmo, foi o semblante de decepção estampado no rosto da minha paquerinha.
NOVOS TEMPOS! O aluno é quem manda na classe. Às vezes, até bate no professor quando não o ameaça de morte. Hoje, a ambiência é inversa a do Ateneu, mas igualmente perversa. Lição fatal. Ponto final. Hora do recreeeeio!
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